Foi a partir de uma recomendação do LinkedIN que adquiri o livro NAÇÃO EMPREENDEDORA – O milagre econômico de Israel e o que ele nos ensina (2011), obviamente, pelo próprio título, era esperado que boa parte do conteúdo fosse destinado a explicar (ao menos considerar) as estratégias da política econômica deste país.

Sim, os autores fizeram isto e muito mais, apresentaram também um cenário ímpar, onde se misturam a cultura, língua e história deste povo – e estes três elementos parecem ser o ‘substrato’ (éthos) que possibilitou todo o desenvolvimento contemporâneo (social e tecnológico) sobre o qual os autores falam.

Ao passo que avancei na leitura, a memória me trouxe ecos da infância (1970), momento em que ouvi falar pela primeira vez sobre os kibutzim israelenses, onde a vida comunitária – movida pelos ideais de construção da ‘segurança alimentar’ – representava uma aspiração apaixonante.

Pois bem, os kibutzim continuam a ser uma realidade estratégica que mobiliza  atualmente 2% da população do Estado de Israel (no início correspondiam a 7%); e foram as extremas condições climáticas e geográficas enfrentadas pelos Kibutzniks que estimularam a ciência e a tecnologia nacionais a desenvolverem soluções inovadoras e sob medida para a agricultura e o meio ambiente locais.

Um bom exemplo é que “atualmente, Israel é o país líder no mundo em reciclagem de água potável, mais de 70% é reciclada, o que significa três vezes o percentual na Espanha, que aparece em segundo lugar” (p.129). E, o que pensar dos 240.000.000 de árvores plantadas individualmente? Florestas espalhadas por todo o território antes desértico, com destaque especial para Yatir (p.130).

Antifragilidade

A cada relato apresentado eu estabelecia uma intertextualidade com a obra e pensamento de NASSIM NICHOLAS TALEB (Antifrágil, 2012); para quem não sabe, Taleb é um libanês radicado nos Estados Unidos e teve parte da sua vida profissional desenvolvida em Wall Street, como operador da Bolsa de Valores. Matemático, Estatístico e Filósofo, Taleb cunhou a expressão “antifrágil” para descrever uma condição de resposta positiva frente à uma adversidade - diferente do conceito de robustez ou resiliência (que, em parte, seriam ‘positivas’), a antifragilidade se caracteriza pelo real benefício obtido quando da exposição / enfretamento à uma crise (econômica, política, social).

Taleb, ao teorizar sobre o tema, faz uso daquilo que ele denomina de ‘transposição da área do conhecimento’ ou seja, apresenta argumentos e exemplos retirados da medicina, da filosofia, da mitologia e do mundo financeiro, por exemplo, para construir seu pensamento.

A ideia de antifragilidade pode ser facilmente apreendida ao pensarmos no desenvolvimento de um músculo quando submetido a exercícios, conceito resumido em ‘no pain, no gain’, ou seja, o quanto o corpo de um atleta se beneficia do estresse físico.

Esta resposta positiva pode ser observada em muitas outras situações e contextos, o próprio Taleb cita a história de Beirute, capital do seu país natal – assolada e reconstruída seis vezes até o momento da publicação do seu livro – como exemplo de antifragilidade.

Estudo de casos

Empresas com a FUJIFILM (que passou de produtora de filmes e papéis fotográficos à gigante na área de imagens digitais) demonstraram uma eficiente gestão antifrágil, ao crescerem em meio às adversidades do século XX, e às desestabilizadoras inovações do mercado; organizações que crescerem pela via negativa, onde tantas outras fracassaram.

Posto este overview do conceito antifrágil, podemos identificar sua aplicação na “grande ironia de Israel ter transformado todos os desafios enfrentados em ativos que constituem os pilares de sua cultura inovadora” (p. XV, apresentação à edição brasileira).  Nas palavras de Shimon Peres (Ex-Presidente de Israel, Prêmio Nobel da Paz em 1994): “depois de 2000 anos de exílio, o único capital à nossa disposição era o humano – a coragem de nosso povo e a tecnologia por ele produzida”.

Para eles, ‘a pequenez territorial criou a oportunidade de especializar-se em qualidade’, realidade também de outras nações, como a Suíça, produtora mundial de chocolate, isto sem ter um pé de cacau plantado em seu território. Um dos princípios da Gestão Antifrágil é a descentralização, intimamente associada ao conceito de ter a pele em risco, mais compreensível por meio do adágio popular espanhol: falar de touros não é a mesma coisa que entrar na arena.

Na prática, a descentralização corresponde à autonomia na tomada de decisões atribuída aos militares de postos mais baixos, em Israel; ou aos operadores de fabricação da Toyota, no Japão. Em ambos os casos a antecipação de problemas e a iniciativa para solucioná-los representa um ganho em tempo e assertividade, favorecidas pela desburocratização destas organizações e pela implicação direta dos envolvidos nas consequências das decisões tomadas.

Israel analisou e bem compreendeu as “fragilidades do seu sistema” (Taleb, Antifrágil, 2012), conforme esta consideração:

Pelo fato de Israel ter sido forçado a exportar para mercados distantes, os empreendedores israelenses desenvolveram uma aversão a mercadorias manufaturadas volumosas, prontamente identificáveis e com alto custo de transporte, ao mesmo tempo, surgiu grande atração por componentes pequenos e anônimos e por programas de computador. Isso, por sua vez, preparou o país para uma guinada mundial rumo às economias com base no conhecimento e na inovação, tendência que ainda se mantém.

Outro aspecto a ser mencionado é que ser judeu independe do lugar do seu nascimento, é uma herança genético-cultural diferenciada, por isto, atualmente, o Estado de Israel possui judeus de mais de 70 nacionalidades diferentes.

Fim da União Soviética

Por exemplo, com o fim da União Soviética ocorreu uma grande leva de imigrantes; entre 1990 e 2000 cerca de 800 mil pessoas chegaram a Israel provenientes do leste europeu, segundo Sharansky:

Misturado ao leite da nossa mãe, nós, da antiga União Soviética, recebemos o conhecimento de que, por sermos judeus – cujo significado não era muito positivo, já que seríamos vítimas do antissemitismo – precisaríamos ser excepcionais em nossa profissão, fosse o xadrez, na música, na matemática ou no balé [...] Essa era a única maneira de conseguirmos algum tipo de proteção, porque sempre estaríamos em desvantagem.

O resultado disto foi que, embora os judeus constituíssem apenas 2% da população soviética, eles representavam “cerca de 30% dos médicos, 20% dos engenheiros e assim por diante”.

Lembrem-se do filme O PIANISTA (2002), baseado na autobiografia homônima do pianista judeu-polonês Władysław Szpilman sobrevivente da 2º Guerra Mundial. Para quem não assistiu, diria que é uma obra de conhecimento obrigatório.

Conclusão

Pois bem, voltando à Nação Empreendedora, o livro apresenta detalhado relato sobre a construção de uma estrutura que favoreceu o desenvolvimento tecnológico no país, oferecendo a esteS muitos cérebros capacitados a oportunidade de trabalharem transferindo tecnologia das forças armadas para setores civis.

Um exemplo impressionante a ser citado é referente aos algoritmos que possibilitavam pesquisas para o Serviço de Inteligência Anti Terrorismo, cuja lógica foi transposta para a pesquisa médica e o sequenciamento genético, isto em 1993 – antes do genoma humano ser mapeado. Pertence também à esta empresa, Compugen, o pioneirismo no desenvolvimento de medicamentos ‘preditivos’, que se baseiam na resposta genética aos novos medicamentos.

Novamente, correspondendo à transposição do domínio de conhecimento tão apregoada por Taleb (2012), a Empreendedora Nação de Israel criou um mind set diferenciado, onde se busca a combinação de diversas tecnologias e especialidades, que dá origem a uma nova perspectiva nos negócios – mais humanizada.

Sem dúvida Israel tem muito a ensinar ao mundo, independentemente das simpatias políticas dos demais, que observam o desenvolvimento exponencial nesta pequena nação, que cresceu mais de cinquenta vezes desde a sua fundação em 1948.

 

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